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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Radiojornalismo em baixa

Jeferson Rocha, Leandro Luis, Leandro Willian e Vitor Thiago

Radialista afirma que busca pela fama e a falta de checagem é o que mais afeta o jornalismo do Rio Grande do Norte

foto:Jeferson Rocha

















Jefferson Paiva, radiojornalista.

O rádio é um dos meios de comunicação mais antigos do mundo e tem como principais características a instantaneidade e o baixo custo, podendo comunicar para o mundo inteiro com muita rapidez a partir de um aparelho celular. No Rio Grande do Norte e em todo o país, esse meio de comunicação não está mais no auge e a informação instantânea se perdeu no tempo, passando, a ter como foco principal o entretenimento.

Na entrevista, o radiojornalista Jefferson Paiva fala sobre a importância do rádio, a atual superficialidade do radiojornalismo em nosso estado e sua visão a respeito do futuro desse meio de comunicação. Paiva que se diz “louco” por rádio desde criança, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e trabalha no rádio há cerca de nove anos. Começou no radiojornalismo em Natal, no ano de 2002, quando passou a trabalhar para a FM Tropical, onde produz e apresenta programas jornalísticos.


O rádio continua sobrevivendo às novas mídias mesmo após diversos presságios de que sucumbiria com o tempo. O que você acha disso? Como enxerga o futuro da radiodifusão?

Em primeiro lugar o rádio perdeu espaço e ganhou novamente. É um assunto de comum acordo de todos os alunos que está havendo convergência de mídias. Não podíamos acreditar há dez anos atrás que teríamos videoblog, twitter, entre outros meio de transmissão de informação. Existem dados não daqui da cidade de Natal, mas de São Paulo, Rio de Janeiro, que mostram que o rádio é mais acessado pela internet do que pelo próprio rádio em si. Ele não deixou de ser rádio, só é uma nova forma de transmissão e de acesso. O rádio nunca vai morrer, vai haver uma convergência de mídias. Da mesma forma que acredito que o YouTube é o futuro da televisão, o rádio terá várias formas de ouvir, gravar e recordar os programas.

O jornalista comunica para uma audiência ampla, abrange diversas classes sociais com diversos anseios e necessidades. Em sua opinião, qual a importância do rádio como meio de comunicação de massa?

O rádio é o meio de comunicação mais instantâneo, por mais que se tenha internet, televisão, celular, o rádio é a forma mais rápida de transmitir informação. É muito mais fácil ligar o rádio de seu carro ou no mp3 para querer saber notícia sobre o trânsito, do tempo ou de um acontecimento, do que acessar a internet, procurar nos sites para poder colher essas informações. A instantaneidade, a facilidade de se obter informação transforma o rádio na forma mais rápida, mais incisiva de se ter informação.

A participação dos ouvintes tem entre vários objetivos, permitir a expressão democrática de opiniões e ajudar a solucionar problemas de ordem social e pública. Você conhece alguma situação engraçada ou delicada que você passou com o ouvinte no ar?

Já teve casos em que o ouvinte telefonou dizendo que certo político tinha morrido e locutores “embarcaram” na barriga e depois o político ligou para a rádio perguntando como morreu. Depende muito do profissional, que se esquece do papel principal da rádio, que é informar a verdade.

Durante o apagão que atingiu alguns estados do país no último 10 de novembro, o twitter era a fonte de informações mais rápida, seguido pelo rádio. Como você enxerga o papel da rádio dentro da comunicação moderna, sobretudo com a internet?

Talvez o twitter tenha a mesma velocidade de informação que o rádio porque é descentralizado com relação à fonte. Porém, no rádio sempre tem um jornalista que vai apurar aquela pauta e redigir a informação até chegar ao ouvinte. No twitter qualquer pessoa pode “twittar” e dar informação, então essa descentralização causa velocidade, mas você não tem base, ou seja, não tem veracidade do fato, não existe estudo de fontes e as pessoas não vão atrás da informação para verificar se elas estão corretas. E é essa responsabilidade que o rádio tem que ter.

Como você vê a situação de o rádio se pautar pelo twitter e no impresso?

Acredito que só se elevou o patamar ou se desagregou a fonte de informação. Se formos parar para pensar como obtínhamos informações antigamente, o jornalista pegava o telefone ou ia diretamente à determinada fonte tentando obter informação. Com a facilidade do meio instantâneo de comunicação, seja o Messenger, o próprio celular ou vídeo conferência, hoje, qualquer pessoa é detentora de uma fonte ou é uma possível fonte de informação. Então, devido à internet ser um meio de comunicação público onde qualquer pessoa poder publicar informações, o jornalista ganhou um amplo campo de fontes. Isso pode ser bom, pois há pouco tempo o jornalista, para saber de um escândalo comercial tinha que marcar uma entrevista ou telefonar para determinada pessoa, gravar uma entrevista com um especialista. Mas hoje em dia o próprio especialista, por exemplo, pode usar o twitter para dar a sua opinião sobre determinado assunto. Essa é facilidade, que ao mesmo tempo traz um problema muito grande, que é a veracidade do fato. Da mesma forma que o volume de informação aumenta, a famosa “barriga” pode surgir com a mesma facilidade.

A agilidade característica do rádio em transmitir informações atrapalha uma cobertura para que ela seja bem apurada?

A agilidade não atrapalha se todas as etapas da apuração das notícias forem cumpridas. Se a informação não for apurada o jornalista não só vai dar uma “barriga” como pode até acabar matando uma pessoa numa notícia. Essa maneira de informar, do jornalista ser pautado, correr atrás da fonte para fazer o seu lide, é igual em todos os meios de comunicação. Em detrimento de uma velocidade maior, ou quando se quer ter uma entrevista exclusiva, muitas vezes algumas dessas etapas são ignoradas e isso acaba gerando erro de informação.

Há como fazer uma radionotícia direcionada para o público das classes C e D?

Há como fazer sim, o mais importante é como falar para esse público e saber o que esse público quer ouvir. Isso não está restrito somente ao rádio e a TV. Qualquer público que se tenha, é preciso saber usar a linguagem e às vezes o comunicador esquece disso.

Você é a favor do funcionamento das rádios comunitárias? Teme que elas possam brigar pela audiência?

Sou a favor, mas acho que a fiscalização tem que ser feita para saber o que essas rádios estão transmitindo. O modelo atual é de um meio de comunicação voltado para trazer informação e benefícios para a comunidade. Porém, muitas dessas rádios comunitárias não são voltadas para esse fim, e se formos ouvir as várias rádios comunitárias hoje, elas não trazem informações da comunidade e se preocupam com o dinheiro tal como uma rádio comercial.

Por que o rádio tem poucos radiojarnalistas? É a falta de profissionais?

Um problema que temos enfrentado hoje em dia com relação ao aumento do número de radiojornalistas é uma questão de rede. Então o que acontece, vou dar o exemplo da CBN daqui de Natal: apesar de termos um numero reduzido de profissionais, para essa proposta de rádio em rede é correta. Podíamos abrigar o dobro ou o triplo, mas como é uma rádio em rede isso acaba reduzindo porque em detrimento de uma rede inteira você só tem um determinado espaço. Não é uma programação inteira para determinado local.

Qual seria o motivo do rádio receber menos verbas publicitárias que outros meios de comunicação?

É apenas uma questão de imagem. O jovem é muito ligado a essa questão. O problema é que o rádiojornalismo está sendo deixado de lado porque o público mais jovem tem acesso a outros meios de comunicação que seduzem mais como internet ou a televisão. È muito melhor e rentável fazer uma propaganda ou um comercial para esses meios de comunicação que para o rádio. Para muitos jovens o rádio ainda tem imagem de coisa velha, de antigo e sem graça.

Temos observado que o rádiojornalismo do RN é muito superficial. Como você avalia essa situação?

A culpa disso é dos comunicadores sociais formados seja pela UFRN ou pela UNP. Muitas das vezes o módulo está lá e te passam o “feijão com arroz tipo”: leia o Diário de Natal, Tribuna do Norte ou site Nominuto.com, pegue as noticias e comente, ou faça as notas. Mas em nenhum momento a empresa te proíbe de pegar o telefone, de ir atrás de uma informação. Essa superficialidade está muito contida no profissional acostumado a sentar na frente do computador e pegar as noticia que estão lá prontas e apenas retransmitir no rádio, na televisão, no blog ou programa de televisão. Também acho que o radiojornalismo e jornalismo em si, aqui no RN, têm muito a ver com a questão da fama. Hoje em dia se relaciona muito a questão de “o fulano tem o twitter que dá informação sobre o RN” e aí todo mundo quer ter um twitter ou um blog e quer virar colunista e dar sugestão de informação. Volto a dizer, é uma questão de fama, de imagem.

O estado do RN paga bem os profissionais das rádios?

Os salários pagos no RN são os piores possíveis – teto de R$ 800 - abaixo da média nacional e até do Nordeste. Estados menores como Sergipe, Alagoas e Paraíba pagam até o dobro. O estado do RN só paga mais que Piauí e Maranhão.

Produção da Disciplina Introdução ao Jornalismo - 2009.2



Um comentário:

  1. Bela entrevista,com boas perguntas e melhores ainda são as respostas.O entrevistado demonstra que tem conhecimento da área em que trabalha,tem bom conteúdo e isso fez com que a matéria rendesse revelando coisas que poucas pessoas sabem.

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