No filme de Zana Briski que originalmente iria mostrar a
realidade das prostitutas e suas condições de trabalho no Distrito da Luz
Vermelha em Calcutá, acaba se deparando com outra realidade ainda mais cruel. O
longa, retrata crianças que nasciam e viviam nos bordéis. Crianças sem
expectativas de futuro senão a prostituição para as meninas e o trabalho pesado
para os meninos.
A ideia do documentário é simples. Zana Briski presenteia
cada criança com uma câmera fotográfica bem básica. A fotógrafa também ensina
essas crianças a fotografar, ensinando a elas como melhor usar os equipamentos.
Zana dá as crianças muito mais do que um aparelho fotográfico, elas ganham voz
e esperança por meio das câmeras. E somos levados a enxergar o mundo pelos seus
olhos e partilhar de suas vidas.
As fotografias a princípio eram sem foco e sem enquadramentos
adequados. As fotografias que as crianças tiravam mostravam a realidade nua e
crua do Distrito Luz Vermelha que munidas de câmeras 35mm, as mais simples do
mercado, “tia Zana”, como é chamada carinhosamente pelas crianças, reúne o
grupo em uma sala improvisada e lhes ensina os rudimentos da fotografia: luz,
enquadramento, composição, ponto de vista. Zana tentou ensina-lhes técnicas e
macetes, o que de certo modo não eram observados pelas crianças A ideia não é
propriamente ensinar; Briski espera proporcionar aos filhos de prostitutas uma
oportunidade de olhar a realidade com seus próprios olhos (e não com os olhos
da tradição local) e expressar o que vêem através da fotografia.
Entre as aulas e saídas fotográficas, Zana também tenta
arrumar um meio de melhorar as condições de vida dessas crianças. Aqui
percebemos que a relação da fotógrafa com as crianças vai muito além do âmbito
do filme. Ela age movida por um sentimento de compaixão para com as crianças. Zana
através de uma abordagem humanista tenta todo custo ajudar aquelas crianças. Por
isso dá uma câmera básica para um grupo de oito crianças e dispôs a ensiná-los
a fotografar.
As crianças, percebe-se no filme, não entendiam as motivações
de Zana. E a fotógrafa por sua vez não pedia que eles tirassem suas fotos a
partir de motivações dela. Ela os deixava livre para fotografarem o que
quisessem. Eis a maior sinceridade nas fotografias das crianças.
Avijit um dos garotos mostrar uma sensibilidade sem igual em
suas fotos. Atento a pequenos detalhes acaba se destacando entre as crianças
pelo seu talento nato. Uma coisa chama a atenção em Avijit, no final do filme
numa mostra de fotografias ele mostrar uma foto e faz o seguinte comentário: “é
uma bela foto. Dá uma boa ideia de como estas pessoas vivem. Embora dê uma
sensação de tristeza. É difícil de olhar, mas é necessário porque é a verdade”.
Esse pequeno comentário dá uma ideia original de síntese da vida daquelas
crianças.
Gour outro garoto do grupo faz as seguintes observações:
“fotografo para mostrar como as pessoas vivem nesta cidade. Aqui as pessoas
vivem no caos, quero mostrar o comportamento do homem”. Nesse sentido
percebe-se um lado profundo da fotografia. Mais que tirar apenas uma mera foto,
fotografar é retratar uma realidade. Talvez a ideia real de Zana seja essa. Mas
Zana não queria que isso fosse feito por ela, mas por pessoas que viviam
naquele ambiente sombrio.
Para Sebastião Salgado, um dos famosos fotógrafos do mundo “as fotos são vigorosas, sem invadir a
privacidade dos fotografados. Muitos deles são vítimas do poder político e
econômico, mas aparecem como vitoriosos. "Não trabalho com a miséria, mas
com as pessoas mais pobres. Elas são muito ricas em dignidade”. Isso
é muito real em nascidos em Bordéis e talvez Zana compartilhe da mesma ideia de
Sebastião.
As fotos mostradas no filme retratam o lado humano daquelas
crianças e até a seleção das fotos que aparecem filme passam isso por parte dos
editores. A sensibilidade é visível no decorrer do filme todo.
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