
Os colegas lhe caçoavam: “lá vai o puxa-saco – tá pensando em ficar rico, otário? Tu é vai levar três sapatos: dois no pé e um na bunda”. Todavia como premio por tal dedicação, ganhara, sim, quatro paredes escorregadias: uma cela regada a mijo lhe sufocando as narinas. O porquê de estar ali, não sabia. Somente um cheiro de amoníaco era uma resposta forjada.
A um canto escuro e lodocento, mergulhado em pesadelos, estava Nonato Lumbira de tal... operário duma firma qualquer do “distrito industrial”. Lumbira estava ali, injustiçado, pagando por um crime não cometido, vítima daqueles que mantem as mãos sujas e o coração no bolso. Já não pensava na honra lançada na lama, mas em Celina, sua amada, na filha Lamara e no pequeno José, lá na favela do Igarapé do Quarenta. Havia amado intensamente a profissão de montador, profissão que trocara pela arrancador de mandioca e arpoar jacaré de tronqueira. Montava agora aparelhos, naquele casarão bacana do “distrito”, mas só agora sentia que estava sendo montado pelos donos e gerentes das chamadas montadoras, que montam peças e desmontam pessoas. Preso acusado pelo gerente Alciole de estar roubando componetes eletrônicos, tendo outros como comparsas.
O gerente, com o dedo em riste, brada qual um demônio:”sêo delegado, esse é o ladrão perigoso”. Lumbira, no fundo da cela, remoia pensamentos: ”ninguém burla a segurança: havia um detector de metais”. Ele estava de consciência tranqüila. “ E se fosse o gerente o próprio ladrão? Ninguém podia provar. Ele pagaria o pato, e tudo ficaria no mesmo. Lá, diante dos “homens da lei” fora acusado impiedosamente sem a menor chance de se defender. Ele seria o bode expiatório. Tudo silenciava diante dos homens emudecidos pelo dinheiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário