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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Brincando de viver

http://planoepromessa.blogspot.com/2009_06_01_archive.html

O sol nasce no horizonte e com ele se levanta. Parece amar essa rotina crua.

Seu sonho é ganhar um carrinho de controle remoto – vai e vem pelos ônibus das pessoas, enquanto lhes mostra o rosto marcado pelas pelejas da vida, seu sorriso banguelo e amarelo.

- Hei moleque preguiçoso! Vai trabalhar!

Corria e saltava que nem um canguru, cheio de vontade de ser alguém na vida.

- Hei Golias! cheirador de cola!

- Tá vadiando de novo? – Vai trabalhar vagabundo.

É a ruma de guris no ponto de ônibus, mangando de Golias.

Essa é a vida desse pequeno “moleque” que ao invés de brincar com seus carrinhos, brinca de carro de verdade. Com seu calção abaixo dos joelhos e a camisa maior que seu tronco, lá se vai.

- Oh seu José cadê a caixa?

- Está atrás do balcão.

- Vai levar só uma hoje Golias?

- Como hoje tem clássico, vou levar umas três.

Quando entra no seu carro "Tempra...todomundo" passa por debaixo da roleta russa.

- Boa noite pessoal! Peço um momento de sua atenção. Estou aqui para vender a preço de banana essas pequenas balas de mascar gostosas e suculentas. Se alguém puder me ajudar com 5, 10, 25, 50 centavos que Deus abençoe. Estou aqui para fazer meu trabalho. É melhor trabalhar que robar. Obrigado pessoal. Desejo a todos uma boa noite.

Esse é o ganha pão de Golias – cumpridor de seu sacerdócio. Dez anos. Corpo miúdo. Está sempre em todos os coletivos.

- Não sou Deus! Mas estou em todos os lugares.

Os passageiros ignoram sua presença. Seu discurso é melodramatico. Seu rosto sujo – parece um trapo de gente. Suas unhas rasgadas como de garimpeiros. Sua fala rouca não convenceu nem o mendigo que estava de carona.

- Uma ajudinha madame!

A música que toca como pano de fundo é tenebrosa.

A senhora idosa pergunta:

- Quem é você?

- Sou filho bastado. Minha mão arranjou um cabra safado e eu nasci. Outro dia cheguei em casa e ela tinha sumido, evaporado. Hoje sou independente.

E se lá se vai Golias “matando um Davi por dia”. Coloca as caixas de sonhos-bombons debaixo dos braços e pula no banco traseiro de seu outro carro doado a todos e dirigido pelo chofer. É uma corrida que não nunca acaba.



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