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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um pequena matéria


O anonimato do Barro Vermelho

 O bar do Mário e a associação Mototribo Potiguar são bons pontos de encontro da população natalense no bairro da zona leste
  
Por Cezar Barros e Leandro Travassos

 No meio da zona leste da capital potiguar, um bairro praticamente desconhecido do resto da população natalense se ergue com suas idiossincrasias. De nome curioso, o Barro Vermelho, desmembrado de Lagoa Seca em 1993, tem ermas ruas que se caracterizam pela penumbra gerada da copa das árvores, encobrindo a luminosidade dos postes. Caminhando pelas vias públicas, que, em sua maioria, são asfaltadas, verificam-se algumas peculiaridades que brilham em meio à escuridão da noite avermelhada.
Em pouco mais de sete mil habitantes, descobre-se o seu Gutembergue. Simplesmente Gutembergue. Não informa o codinome nem sob ameaça de morte. Odeia aparecer. Repudia fotografia. 50 anos idade. Corpo franzino. Sua barba mistura fios pretos e brancos que chegam à altura do busto. O boné, branco e surrado, não sai de sua cabeça.  Define-se de modo interessante:
– Autodidata. Mesmo tendo estourado o tímpano esquerdo, sou apaixonado por música. Apesar da banca de revista, tenho pouco tempo para ler.
Há mais de trinta anos trabalha do ensino de violão à venda de revistas. Quando mais jovem, foi aprovado no vestibular de medicina. Passou por muitas dificuldades. Teve de abandonar o curso. Nunca terminou o ensino superior. Sempre deu aula de matemática, português e violão. Seu ponto de venda de magazines fica na esquina da rua Segundo Wanderley com a avenida Jaguarari. Ponto pouco atrativo. Uma curiosidade chama à atenção na minúscula banca: não tem nome. Abre somente a partir das 18 horas. Tem apenas um cliente. Um garoto que compra revista pornô.
(Foto: Leandro Travassos/Fotec)
A banca de revista do Gutembergue sem faxada
 A caminhada pelas ruas do Barro continua. De repente, depara-se com a sede da associação Mototribo Potiguar. Um ponto cheio de troféus que une 81 amantes dos veículos de duas rodas. Todas as quartas feiras, às 20h, os motoqueiros se reúnem para conversar, apresentar projetos, opinar, prosear e contar causos. Uma grande família que anda junta, especialmente nos momentos de lazer.
– A sensação de ser motociclista é indescritível. É sentir a liberdade e ter espírito de natureza - com entusiasmo, Dalmiro Monteiro de Oliveira, 50, fala sobre uma de suas paixões.
A avenida Jaguarari corta grande parte da cidade e se encerra no Barro Vermelho. É onde diariamente se encontra João Maria dos Santos, 56. Está cansado, após o longo dia de trabalho. Uma coisa, porém, lhe dá animo para viver mais uma noite. O velho violão. Não toca dentro de casa. Atravessa a rua e fica a dedilhar as canções que relembram os tempos áureos de sua juventude. Os ruídos metálicos dos carros velozes que passam contrastam-se às suaves melodias extraídas das cordas do violão de senhor João Caduco, como é mais conhecido. Tem presença ignorada pelos transeuntes. É uma figura solitária. Ele instrumentaliza um som abafado da balada de uma saudade.
(Foto: Leandro Travassos/Fotec)
Contrastam-se os ruídos metálicos dos carros e as canções de João Caduco.
O bar do Mário não é um bar qualquer. É diferente. Como todo bom boteco, tem poucas mesas e está sempre lotado. O dono é seu Mário Barbosa, 61. Mais conhecido como Mário. Há 27 anos trabalha no local. No interior do espaço, reúnem-se industriários, engenheiros, advogados, professores, intelectuais e políticos. Figuras ilustres que se fantasiam de sócios fiéis. A nata que Mário chama de velha guarda. Embora bem frequentado, o bar do Mário recebe poucas visitas dos moradores do Barro Vermelho. A maioria de seus convivas vem de outros bairros da capital. No bar, conversa-se sobre política e futebol. Muitas personalidades conhecem o pitoresco bar e mercearia.
– Já tivemos presença de figuras ilustres como Aluísio Alves, Garibaldi Filho e o Marinho, ex-jogador da seleção brasileira - relata com orgulho, o dono do bar.
(Foto: Leandro Travassos/Fotec)
O Bar do Mário é um ponto de encontro de pessoas dos diversos bairros de Natal
Assim é o Barro Vermelho. Pessoas diferentes que muitas vezes não são percebidas pelos moradores. As casas estão sempre de portas fechadas. De arquitetura antiga, as residências são repletas de grades para tentar inibir os frequentes assaltos. A população é formada, em sua maioria, por idosos. Talvez isso justifique a limpeza e organização presente nas ruas. É um bairro agradável e tranquilo.

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